Ela entrou na lotação tarde da noite. Chovia.
"Merda", pensou ela. "Meu lugar preferido está tomado".
Ela sempre procurava pegar o mesmo lugar desde que superou a fese extravagante de sua adolescência. Não queria mais reencontrar seu nome, ou vestígios de seu passado que ela tanto omitia dela mesma, mas não queria perder o lado destoante que a fazia percorrer toda a lotação enlameada, com sua sombrinha molhando assentos, para chegar ao fundo. "Onde o ar condicionado não me atinge". Ela pensava assim mesmo nos dias de mais calor. "De que adiantaria uma temperatura suposta, mas irreal?".
Ela sabia as verdades. a irrealidade das verdades que complementam tudo o que a cercava.
Mas ela seguiu. "Porra!" e sentou-se bem ao meio de uma lotação, no único assento em que não teria compania. Não queria compania; ninguém a entenderia. nem no meio daquela lotação, que era uma carreira a frente da sua fase superficial, e duas a frente de sua ânsia.
"Eu sou a única mulher aqui. Essa lotação passa por todos os puteiros dessa cidade. Tô fudida, é hoje que sou assaltada!" e a lotação entra em tal rua peculiar. Tudo tranquilo, apenas as prostitutas, que mais assemelhavam-se a dançarinas do Tchan imitando paquitas: figuras obscuras, oxigenadas, vestidas de branco, sainda das esquinas mais imundas daquele brejo. A lotação para. "Só o que me faltava: um cara travado de pó! Pelo menos ele é bonitinho... por que os podres são sempre os mais bonitinhos? E por que diabos ele está usando uma calça de couro vermelha??? Pelo menos é vermelho escuro... só me faltava... mais um bonitinho, cheirador e viado nesse fim de mundo a essa hora"
O percurso continuava. As luzes da lotação estavam imundas, amarelas. Pareciam ter todo o tipo de inseto morto dentro. Possivelmente tivessem. "E eu sou a única guria por aqui..." Ela sempre tivera todo o orgulho de ser mulher, mas não no meio daqueles porcos que babavam as cadeiras e a encaravam como se ela fosse um cordeiro. Novamente ela tinha de se fazer de monstro, pois o simples fato de o olho cintilar de uma maneira diferente poderia determinar um papo ou uma atitude alheia muito desconfortável e totalmente indesejada. "Porcos. Por que têm de ser assim? É tarde, vão babar em seus acentos! Vão descer nesses puteiros!!!!"
Muda-se a rua. O caminho lhe é estranho. "Odeio estar perdida. E se estiverem me raptando? Hahahaha, o pobre motorista montando uma granja! Mas devo estar perto... o caminho pelo menos parece fazer sentido... " E entra uma outra menina na lotação.
Pouco a pouco os homens saem. Ficam ela, a outra menina e um senhor, dormindo, que certamente ja perdeu a sua parada. Ela estava meio encolhida, ainda, evitando os olhares alheios e evitando seu próprio olhar no vidro: a chuva parecia mais divertida, e descobrir aonde estava era necessário.
Ela se localiza. Com firmeza. Crava seu guarda-chuva no chão. o senhor acorda com o baque estranho, a menina da frente (logo a frente dela) nem a tinha notado, dá um pulo. Ela se levanta, audazmente, com um orgulho desnecessário. Ela não tinha feito nada.
Põe a mão no bolso. "Meu bolso está bem quente; eu devia poder manter minha mão aqui, mas tenho que pagar esse cara que quase arruinou a minha vida!" Ela paga.
Põe a mão novamente no bolso.
Encosta-a no rosto.
"Merda", pensou ela. "Meu lugar preferido está tomado".
Ela sempre procurava pegar o mesmo lugar desde que superou a fese extravagante de sua adolescência. Não queria mais reencontrar seu nome, ou vestígios de seu passado que ela tanto omitia dela mesma, mas não queria perder o lado destoante que a fazia percorrer toda a lotação enlameada, com sua sombrinha molhando assentos, para chegar ao fundo. "Onde o ar condicionado não me atinge". Ela pensava assim mesmo nos dias de mais calor. "De que adiantaria uma temperatura suposta, mas irreal?".
Ela sabia as verdades. a irrealidade das verdades que complementam tudo o que a cercava.
Mas ela seguiu. "Porra!" e sentou-se bem ao meio de uma lotação, no único assento em que não teria compania. Não queria compania; ninguém a entenderia. nem no meio daquela lotação, que era uma carreira a frente da sua fase superficial, e duas a frente de sua ânsia.
"Eu sou a única mulher aqui. Essa lotação passa por todos os puteiros dessa cidade. Tô fudida, é hoje que sou assaltada!" e a lotação entra em tal rua peculiar. Tudo tranquilo, apenas as prostitutas, que mais assemelhavam-se a dançarinas do Tchan imitando paquitas: figuras obscuras, oxigenadas, vestidas de branco, sainda das esquinas mais imundas daquele brejo. A lotação para. "Só o que me faltava: um cara travado de pó! Pelo menos ele é bonitinho... por que os podres são sempre os mais bonitinhos? E por que diabos ele está usando uma calça de couro vermelha??? Pelo menos é vermelho escuro... só me faltava... mais um bonitinho, cheirador e viado nesse fim de mundo a essa hora"
O percurso continuava. As luzes da lotação estavam imundas, amarelas. Pareciam ter todo o tipo de inseto morto dentro. Possivelmente tivessem. "E eu sou a única guria por aqui..." Ela sempre tivera todo o orgulho de ser mulher, mas não no meio daqueles porcos que babavam as cadeiras e a encaravam como se ela fosse um cordeiro. Novamente ela tinha de se fazer de monstro, pois o simples fato de o olho cintilar de uma maneira diferente poderia determinar um papo ou uma atitude alheia muito desconfortável e totalmente indesejada. "Porcos. Por que têm de ser assim? É tarde, vão babar em seus acentos! Vão descer nesses puteiros!!!!"
Muda-se a rua. O caminho lhe é estranho. "Odeio estar perdida. E se estiverem me raptando? Hahahaha, o pobre motorista montando uma granja! Mas devo estar perto... o caminho pelo menos parece fazer sentido... " E entra uma outra menina na lotação.
Pouco a pouco os homens saem. Ficam ela, a outra menina e um senhor, dormindo, que certamente ja perdeu a sua parada. Ela estava meio encolhida, ainda, evitando os olhares alheios e evitando seu próprio olhar no vidro: a chuva parecia mais divertida, e descobrir aonde estava era necessário.
Ela se localiza. Com firmeza. Crava seu guarda-chuva no chão. o senhor acorda com o baque estranho, a menina da frente (logo a frente dela) nem a tinha notado, dá um pulo. Ela se levanta, audazmente, com um orgulho desnecessário. Ela não tinha feito nada.
Põe a mão no bolso. "Meu bolso está bem quente; eu devia poder manter minha mão aqui, mas tenho que pagar esse cara que quase arruinou a minha vida!" Ela paga.
Põe a mão novamente no bolso.
Encosta-a no rosto.
" Mãe, por favor, vem me pegar! Ta tão frio... "